Entrevista – Torches of Nero: [...]as pessoas deveriam ser livres para opinar e expressar sua arte da forma que fosse
Por: Renato Sanson
Entrevista com Baal Seth Penitent (guitarra/vocal)
Torches of Nero apresenta aquele som Old School clássico dos anos
80/90. Caótico e para poucos. A ideia sempre foi essa?
Obrigado meu amigo Renato pela
oportunidade de conversarmos. Sim, a ideia é essa essencialmente. Transformar
em realidade aquilo que os espectros que nos acompanham desde sempre sussurram
aos nossos ouvidos desde essa época. Há uma diferença entre as sonoridades da Demo
“Fallen Angel of Arcturo” e do EP “Mokk”, mas também há uma ligação muito forte
entre esses trabalhos, são conectados pelo Caos, iluminados pelo Sol Superior.
Para o full manteremos a mesma toada sem forçarmos absolutamente nada. O
compromisso maior é conosco e com poucos que nos rodeiam.
O EP “Mokk” deixa bem claro essa proposta insana e agressiva. Com uma
ambientação soturna e macabra. Como foi o processo de composição do mesmo?
O processo de composição deu-se
de forma simples com músicas compostas entre o final de 2021 até a metade de
2022. Assim, tendo o projeto e o conceito definidos, colocamos nosso tempo e
nossas energias para fazer algo diferente do que temos como conceito de black
metal no Brasil, respeitando as nossas referências, mas dando nossa cara
particular a essas blasfêmias. De uma forma geral eu componho as músicas e
fazemos os ajustes à medida que vamos ensaiando.
Não poderia deixar de ressaltar a maligna e impactante “We Are All Dead”, que fecha o EP de forma incrível e traz momentos inacreditáveis em seus mais de 10 minutos. Conte-nos um pouco mais deste som em específico.
Sim, concordo contigo. Ela tem
uma aura muito anos 80, Centralmente Venom. Sua letra é uma reflexão
existencialista com base na obra de Emil Cioran, sua sonoridade tem Venom na
intro, no refrão e no riff final.
O final do disco tem uma surpresa
que leva outro nome, o qual poucas pessoas conseguiram identificar o seu nome
até o momento. Acho ótimo que tenhas gostado, é para poucos pois Venom não é da
moda, não faz moda e muitos dos que se dizem influenciados por eles, nem ao
menos os respeitam. A participação do Venom na criação do que veio a se chamar
black metal vai muito além do nome e não pode ser diminuída por revisionistas
sem raiz alguma.
Em 2021 vocês lançaram a apresentação ao vivo chamada “The Sermon of The Impure:Prophecy and Disgrace. Live Ritual”. Trazendo toda aura ritualística da banda e mostrando que ao vivo também é um show à parte. Pois as caracterizações chamam muito a atenção. Nos comente a respeito desta ideia e da questão visual.
Esse conceito vem do Sermão da
Montanha, no qual o Messias e Rei de Israel esparramou suas grandes mentiras
que viriam a formar parte do cânone da Igreja Católica. O conceito de Profecia
e Desgraça então vem do livro de Luiz Felipe Pondé no seu livro acerca de
Dostoieviski e a Filosofia da Religião. A “des-graça” é o afastamento do divino
na forma como é pensado pela igreja, pelo judaísmo, cristianismo e islamismo.
Nós queremos a aproximação com o divino de outra forma, com o divino que existe
em nós, pois, não há nada além. Então, nossa vinculação deve ser com o
indivíduo, com o hoje e com o agora. Somos o desvio, a mentira e a morte.
A questão estética vai desde um poster com grandes referências ao trabalho de nosso amigo Michel Barinacho Martins e Grand Belial´s Key assim como nas vestimentas aos velhos rituais de Mortuary Drape entre muitos. Acho que o resultado foi satisfatório e quem ainda não viu pode ver através dos canais Programa Apocalipse e Satans Command.
Vocês fecharam uma parceria com a Hammer of Damnation e pretendem
lançar o full lenght (“The Harmony of the Prey– Under the Banner of the Evil
Demiurge”) ainda este ano, certo?
Eu chamaria de irmandade, de
pertencimento muito mais que parceria. Hoje nossa relação extrapola e muito os
limites de uma relação banda- gravadora. Tivemos muita sorte na verdade pois os
nossos sentimentos acerca do black metal falam com vozes semelhantes e olhando
para o mesmo horizonte. O conceito do disco mudou e seu nome também. Falaremos
sobre Judas Iscariot, o Mártir da Descrença, aquele que entregou o messias e
rei dos galileus para a morte pois só a morte é vitoriosa. A morte é sempre vitoriosa.
Provável primeiro semestre do ano que vem seja o período mais adequado de
lançarmos.
O que podemos esperar do Debut?
Uma sonoridade mais perto da demo em alguns momentos, mas de uma forma geral a mesma iluminação caótica vinda do Sol Superior. Uma exposição clara do que pensamos acerca do monoteísmo, das fundações abraamicas, das mentiras perpetuadas desde sempre através de crenças absurdas usadas como bengalas pelo ser humano. Se entendermos a morte como vitoriosa e onipresente e onipotente talvez nosso sofrimento nesse erro chamado vida seria muito menor.
Mantendo a tradição old school, assim como na época da Feto, vocês optam pelo lançamento físico dos materiais, seja em CD ou em fita K7. Não dando muito espaço para as mídias digitais. Isso seria uma estratégia?
Na verdade, acho que são coisas
do momento e das oportunidades. A partir do momento que sou obrigado pelo
sistema a ter uma rede social para divulgar um pouco de nosso trabalho todas as
argumentações acerca do que é verdadeiro, ou fiel perde o sentido. Eu acho
abominável ter de participar disso, mas não há outra forma caso desejemos ter
um mínimo de oportunidades. Sendo assim, preferência pessoal é pelo físico como
um bom colecionador que começou a escutar heavy metal em 1988.
Recentemente tivemos uma polêmica envolvendo a banda norueguesa Mayhem. Que no qual, teve seus shows cancelados no Brasil, sendo acusada de nazismo. Aqui no RS, teve a denúncia de um “Deputado” que está envolvido em vários escândalos, um deles: assédio sexual. Sabemos das polêmicas do Mayhem, mas penso que a banda não é simpatizante com o nazismo. Qual a tua opinião sobre esta situação?
Acho que as pessoas deveriam ser
livres para opinar e expressar sua arte da forma que fosse, sem qualquer tipo
de obstáculo ou censura. Faça o que quiseres... No entanto, no caso do black
metal algumas coisas não cabem ou parecem não caber. E aí é uma opinião minha
sem qualquer pretensão de idealismos. Quando você vê pessoas falando em “limpar
o movimento”, “torná-lo palatável”, “aceitável pela sociedade” você vê que essa
merda se perdeu mesmo. Dead, Euronymous, Jon, Nefas, Killjoy entre tantos outros
devem estar virando-se em suas tumbas, dando gargalhadas e cuspindo em nossos
espectros por que virou um lixo como esse.
O black metal nunca foi isso,
sempre foi agressão, ofensa, chocar a sociedade com arte e atitudes as quais
não são aceitas pela sociedade. Não se encaixam em seus dogmas ou parâmetros.
Black metal também é uma busca
pelo conhecimento, uma absorção da luz emanada pelo Sol Negro. Você pode
interpretar de algumas formas, mas sabemos que esse tipo de energia não habita
a mesma localidade que essas energias que querem tornar a morte, a escuridão
como um produto de mercado vendável.
Não é vendável acima de tudo. Alguns
valores não têm preço e nunca terão.
Enfim... Sobrou pouco ou quase nada do que foi. Sobre as pessoas que apontam o dedo e levam o demônio ao “julgamento alheio”, propaganda é a alma do negócio. Obrigado.
Imagem exclusiva da homenagem aos 30 anos da morte de Euronymous com clipe previsto para ser lançado no canal Satans Command em breve. |
Falando em Feto sua outra banda. Teremos algum material inédito ou alguma apresentação ao vivo planejada? Pois lembro do excelente barulho que a Feto proporcionou ao underground gaúcho, principalmente pelos shows enérgicos que faziam.
Obrigado pelas considerações em
relação a Feto, tenho certeza do teu apreço eterno por nós. Neste momento e em
um futuro próximo nada programado, a não ser o lançamento de uma tape coletânea
pelo selo de um amigo que resolveu prestar uma homenagem aos Leprosos. Em breve
mais novidades.
Qual a origem do nome Torches of Nero? Tem algo a ver com o Imperador
Romano Nero?
Sim está relacionado a forma como Nero iluminava as ruas de Roma, com tochas humanas vinculadas ao Nazareno em chamas. Um pouco sugestivo do que pensamos.
Gostaria de agradecer o tempo cedido e que o Metal old school continue
triunfando e levando o som extremo mundo afora. O espaço final é de vocês.
Ao amigo de longa data e apoiador
Renato, tenha certeza que nossa amizade está além disso tudo e foi construída
sem partículas de luz. A escuridão construiu ao longo de mais de 10 anos algo
sólido.
Obrigado pelo apoio à Torches e
parabéns pelo teu trabalho.
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