Entrevista – Loss: “Em 20 anos espero que tenhamos sabido reconhecer os limites éticos e morais do uso da tecnologia”
Por: Renato Sanson
“Human Factory” traz a temática “Deus ex machina”. Um assunto que gosto bastante. Com letras que me remeteram ao clássico Blade Runner. Como surgiu essa ideia?
Marcelo Loss - Esse é um tema que nos instiga muito também, essa
relação entre os homens e as máquinas. A chegada da IA trouxe um elemento a
mais à mesa. O clássico e visionário Blade Runner já apontava os possíveis
conflitos que estavam no caminho dessa “evolução”. Agora não é mais ficção, é
nosso presente!
Diferente de “Storm” o novo álbum traz uma gama sonora mais abrangente.
Desde elementos tribais até nuances mais acessíveis. O que deixou a
musicalidade mais encaixada e atrativa. Conte-nos sobre o processo criativo.
Teddy Bronsk - Nós somos uma banda com influências de vários
estilos e estamos ficando mais ecléticos nas composições, mas sem perder o
peso. Penso que encontramos um equilíbrio nas nossas composições. As músicas
estão soando de forma natural, do jeito que queremos. Essa variedade de estilos
que o disco tem é fruto das vivências e das diferentes influências que temos.
Voltando ao contexto de “Human Factory”, as adições tribais e indígenas
ao meio de sons mecânicos, trazem uma sensação de um futuro não tão distante.
Uma era dominada pela tecnologia e cada vez mais sem vida. O que vocês pensam a
respeito?
ML - Realmente é o que queremos mostrar nesse álbum. A intro Reboot já aponta esse caminho ao mostrar sons de máquinas interagindo com cantos indígenas. Não somos contra a tecnologia e os benefícios que ela traz, mas devemos reconhecer que ela é uma ferramenta poderosa que pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal, daí a necessidade de uma discussão sobre seu uso ético e responsável.
“Deus” uma das faixas cantadas em português traz uma mensagem forte e
enigmática. Em minha opinião fazendo uma alusão a Blade Runner, pois, pode-se
interpretar que quem clama pelo divino seria a máquina e não o ser humano. Qual
mensagem queriam passar com essa música?
Adriano Avelar - Deus é a oração de um ateu que, relutantemente,
pede a Deus que acabe com aqueles que mentem em seu nome! E para um robô, os humanos
seriam como seus deuses? Esse é um questionamento que fizemos nesse disco! Pela
primeira vez, estamos diante de inteligências não humanas, que foram criadas
por nós.
O Loss é formado por músicos bem experientes no cenário. Isso facilitou
a moldagem sonora da banda?
TB - Claro, sabemos o que queremos e também o que buscamos ao fazer
um disco, respeitando a influência de cada um. Nossa experiência também nos
permite lidar melhor com o público, com os shows ao vivo, com a imprensa e com
os demais personagens do meio musical, como produtores e gravadoras. O
aprendizado é constante!
A capa de “Human Factory” também traz essa questão do “homem vs
máquina”. Um mundo dominado por máquinas devido à ganancia humana para
conquistas e evoluções, onde o ser pensante é justamente o androide. Como vocês
imaginam o mundo daqui a vinte anos?
ML - Essa é a reflexão que a capa propõe: como um ser humano
pensando em seu Deus ou criador, a máquina pensa sobre o homem que a criou.
As coisas positivas trazidas pelo
avanço tecnológico são inegáveis, como a facilidade e a velocidade da
comunicação em um mundo cada vez menor. Mas há um perigo evidente com a
possibilidade de, por exemplo, se manipular a realidade com o uso de
inteligência artificial, para fins escusos.
Em 20 anos espero que tenhamos
sabido reconhecer os limites éticos e morais do uso dessas ferramentas
tecnológicas, caso contrário poderemos estar num caminho sem volta para a
dominação dos mais vulneráveis pelos mais poderosos, ou mesmo de nossa autodestruição.
Mas somos otimistas. A mensagem do álbum é de que os riscos estão aí, mas acreditamos
no fator humano!
Em termos de receptividade, como está sendo a aceitação do novo álbum?
AA - Estamos muito felizes com a receptividade do disco, é algo bem
melhor do que imaginamos. A imprensa gostou do disco, e o público tem curtido
muito os shows. Pretendemos fazer muitos shows esse ano, inclusive no exterior,
e pretendemos tocar todo o álbum em cada um deles!
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