Por: Renato Sanson
Músico entrevistado - Lord Vlad (vocal/baixo)
O Malefactor está na ativa há mais de 30 anos! Sendo criador de um estilo único dentro do Heavy Metal, pois o som praticado pela banda é algo muito peculiar, onde já vimos muitas bandas gringas com um estilo parecido décadas depois. O que pensam a respeito disso?
Saudações amigos do Heavy
and Hell. Começamos essa jornada tocando numa garagem, com equipamentos
precários em 1991. Aos poucos, junto com outras bandas da época, fomos
construindo a cena underground metálica da Bahia e em 95 passamos a incorporar
teclados e alguns vocais limpos. Em 1996 decidimos dar uma guinada e fazer uma
mescla ainda maior entre o Death Metal do início, com passagens Black, Heavy e
Doom. Tudo isso em uma aura mística pagã que ainda era bastante incipiente na
América do Sul. Tanto que até hoje não conseguem nos definir e ficam colocando
o Malefactor em caixas onde nunca estivemos. Você irá encontrar referências de
vários estilos de Metal verdadeiro e algumas mudanças, mas basicamente o
Malefactor depois do primeiro disco teve melhorias técnicas, mas sem perder a
referência. Fico muito orgulhoso quando vejo que somos reconhecidos pelo
pioneirismo. Não vivemos de banda, mas deixar um legado na música underground
já é muita coisa.
Outro ponto espetacular no Malefactor é todo o poder histórico nas
letras. A cada álbum temos histórias que nos levam a aprofundar o nosso
conhecimento sobre os temas, tamanha a riqueza apresentada. Gostaria que
comentassem mais a respeito.
Sempre fui fascinado pela
leitura. Tanto ficcional quanto historiográfica. Desde a infância me apaixonei
pela agressividade da escrita de Robert E. Howard. A primeira banda a usar a
atmosfera de Howard nas letras foi o Celtic Frost, mesmo que não tão escancarada
quanto nós. Aliado a isso, decidi desde novo que queria estudar História. Hoje
sou um grande preguiçoso comparando com minha juventude quando eu tentava ler o
máximo de História e livros ocultistas que pudesse. Sendo filho de um escritor
e Antropólogo, e de uma Professora, os livros sempre foram companheiros meus e
de minhas irmãs durante toda nossa vida. Tentei até fazer parte de círculos
como a Gnose, mas não me identifiquei com algumas ideias bastante duvidosas do
Samael Aun Weor (ou da forma como seus seguidores entenderam sua obra). Devido
a meu pai ser um estudioso de religiões, tentei mesclar tudo isso nas letras da
banda. Era Hiboriana, Ocultismo, Guerras, História das Religiões são nossos
temas desde sempre. Tivemos pouquíssimas letras no Malefactor que não vieram da
minha cabeça, inclusive nosso ex baixista Roberto Souza fez todas as letras do primeiro
álbum do Divine Pain (outra banda do nosso guitarrista Danilo Coimbra) e são
sensacionais, mas no Malefactor sempre foi mais fácil para mim cantar sobre o
que sai da minha mente.
Para criar uma sonoridade tão única, quais foram as influências da
banda?
Todos nós começamos no Metal muito novos. Comecei a ir a shows underground com 12 anos (Taurus do RJ foi a primeira banda que vi ao vivo) mas já ouvia antes em casa com minha irmã (mesmo que eu ainda não fosse um metalhead pois eu era uma criança). Jafet é meu primo e junto com outros primos, começamos todos ainda pirralhos no Iron Maiden e fomos seguindo a trilha do Metal. Entre 89 e 91 vi bandas como Headhunter DC, Thrash Massacre, Slavery, Megahertz, PUS, Sextrash, WitchHammer, Metralion, Mercy Killing, Overdose, Zona Abissal, Death Vomits, Alcoholic Pigs. Salvador na época já tinha bastante evento underground com bandas de outros Estados, e quando vimos o Sepultura na tour do Arise, foi a hora da certeza que queríamos ter uma banda de Metal Extremo. Danilo eu conheci por intermédio do Paulo Lisboa (ex Headhunter DC) pois todos morávamos na mesma área e ele já estava querendo tocar Metal Extremo. Daniel Falcão, mesmo sendo dez anos mais novo, também começou a frequentar shows desde novo. Lembro de ter visto shows dele com a banda Mortify, muito moleque ainda e já era brabo, sempre tocou bem. Desde o começo, mesmo com uma época mais radical ou não, nunca deixamos de ouvir vários estilos de Metal, Rock Progressivo, e música obscura.
Não havia problemas em ouvir Venom e Kiss (fase maquiada). Bulldozzer e Kamikaze. Sarcófago e Judas Priest. No começo tentávamos soar como uma banda de Death Metal mais purista, mas achamos desde cedo que seríamos mais fortes se não ficássemos presos a rótulos, tanto que é difícil classificar nossa música. Geralmente nos colocam em caixas que não nos dizem nada. Somos extremos demais para o tal “Death melódico sueco” e melódicos demais para o Death Metal mais brutal. Sem problemas. Existe espaço para todos que façam música por devoção e compromisso underground. Rótulos para mim são necessidades de mercado. Óbvio que somos viciados no Death Metal Old School, mas também pelo Black Metal, pelo Heavy tradicional, pelo Doom Metal e respeitamos os mais puristas/raw, e tocamos em outras bandas que são mais puristas, mas no Malefactor o Norte é não ir sempre na mesma direção. É sempre nos desafiar. Óbvio que quando você se arrisca mais, você está mais próximo do erro, e mais fácil de ser julgado, mas não vivemos de música, então podemos fazer o que quisermos. Somos metalheads fazendo música para metalheads.
Em maio vocês estarão no Bangers Open Air, o maior festival de Heavy
Metal do nosso país. Qual a expectativa para esse momento?
Nós temos uma ótima relação com a Roadie Crew. Mesmo que tenhamos nos afastado em algum momento, nunca deixamos de agradecer publicamente a eles por terem aberto portas para o Malefactor e outras bandas do Norte-Nordeste, embora a cena ainda está muito longe de ser o que deveria. Foi a Roadie Crew que nos colocou no cast do Wacken Open Air em 2006, quando eles eram o maior festival de Metal do mundo. Cabe a nós lutarmos e ocuparmos estes espaços. Fui ao Bangers quando ainda era o Summer Breeze e como já fui a festivais na Europa, pude comparar em nível de estrutura, diversidade, qualidade e perdia em poucos pontos, que já melhoraram e continuam melhorando desde então. O Brasil merecia um festival desse porte.
Não iremos tocar no palco principal (ainda), mas esperamos receber o apoio dos
metalheads mais vinculados ao underground. Desejamos que o festival nunca deixe
de existir e que ele cada vez mais abra portas para bandas nacionais e da
América do Sul como um todo. Faremos nosso melhor show, independente de ser
nesse ou naquele palco. Quem for verá uma banda brasileira madura, arrancando
seus pescoços com metal. Quero agradecer em especial a Eduardo Macedo da MS
Metal Agency, nosso amigo e apoiador da vida toda. Esse cara, literalmente,
vive de Heavy Metal. Agencia e lança inúmeras bandas todo ano, um verdadeiro
workaholic do Metal e um amigo e irmão. Sem ele, junto ao Cláudio Vicentim, talvez
ainda não fosse nosso nome lá para começar essa fase de bandas do Norte-Nordeste
nesse festival enorme. Que venham muitas e muitas outras bandas brasileiras e
sul-americanas.
Sixth Legion” foi lançado em 2017. Sendo um álbum muito aclamado pelos
fãs e critica. O mesmo atingiu qual grau de satisfação para vocês? E neste
período a banda estava como trio, como está a formação atual?
Sei que toda banda acha seus
últimos trabalhos os melhores, mas “Sixth Legion” realmente EU acho nosso
melhor disco. Menos teclados do que os discos anteriores deram um ar mais agressivo
que remete as nossas demo tapes e estávamos num momento bem crítico, pois
metade da banda tinha saído. OS 3 que ficaram (Eu, Danilo e Jafet) são os
compositores de 95% das músicas, então nada mudou na qualidade das composições.
Mas respeito toda a questão emocional/afetiva das pessoas com os álbuns mais
antigos. É assim comigo também. Talvez daqui dez anos ele tenha o
reconhecimento que deveria, ou não (risos). Estamos sempre olhando pra frente.
Nossa formação atual é a mesma desde 2017, quando Daniel Falcão (Headhunter
DC/Vermis Mortem/Insaintification) se juntou aos outros malfeitores. Para quem
ainda não conhece as musicas do nosso novo EP, já existem 3 vídeos clips no nosso
canal no YouTube. Estamos estudando a possibilidade de gravarmos mais um clipe
no Bangers Open Air.
Mas já se passaram sete anos deste lançamento. O Malefactor está
preparando material inédito para breve?
Já está indo para fábrica em
duas semanas ou um pouco mais, o nosso novo EP. Ele sairá em todos os formatos.
Em LP (Split com a banda Aztlan), em CD (somente o Malefactor com o EP + três
faixas exclusivas) e em tape.
Em 2018 também foi lançado o documentário “25 anos Sob a Lei da
Espada”, que é excelente por sinal! Como surgiu a ideia do mesmo?
Esse doc foi idéia do cineasta Sérgio Franco, como conclusão de curso em Cinema e Vídeo. Ele decidiu (diferente do que queríamos) fazer um média metragem, o que impossibilitou o filme de concorrer em festivais de cinema, já que só curtas e longas conseguem alguma penetração nessa área. Estamos preparando um doc novo para 2026 quando faremos 35 anos de banda. Devido à nossa preguiça, ainda não subimos as dezenas de extras do doc de 2018, mas faremos isso.
Uma pergunta desafiadora: se você pudesse definir o Malefactor em uma
frase, qual seria?
"O homem só será
livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre", Jean Meslier. (não, não é Voltaire).
Essa é a postura filosófica do Malefactor, uma definição política de combate à
podre religião institucionalizada em nosso país.
Considero a discografia do Malefactor muito consistente e difícil de
definir qual seria o melhor álbum. Mas confesso que tenho um apresso muito
grande por “Anvil of Crom” (2013). O que vocês pensam sobre esse lançamento
tantos anos depois?
LV – Muitos acham nosso melhor disco, e temos
muito orgulho dele. Difícil é lançar em LP por que ele é enorme, do tamanho de
dois discos. Mas iremos lançar todos os álbuns antigos e o que lançarmos no
futuro em vinil. Amo a capa, as letras, tudo nesse disco. Não mudaríamos nada
nele.
Ainda sobre o B.O.A. Quais bandas estão ansiosos para assistir?
Dark Angel, que é a única
que nenhum de nós viu ainda. Dark Fuckin Angel. Paradise Lost, Dorsal Atlântica,
Saxon (que perderemos algumas musicas por que eles começam na mesma hora que
nosso show acaba), Viper, WASP (que esperamos que não venha com esse discurso
patético de EUA pró Cristo), Kerry King, Nile, Vader, Doro, Municipal Waste,
Pretty Maids, Glen Hughes. Mas queremos ver todas que forem possíveis,
obviamente que as nacionais queremos ver todas e apoiar também. Um abraço
especial a nosso irmão Antônio Araújo (Matanza Ritual/ex-Korzus) que tocará no
mesmo horário, mas é um grande apoiador nosso desde sempre e ao pessoal do Hibria
que foram muito parceiros quando tocamos juntos vinte anos atrás no Brasil
Metal Union. E estamos quase confirmando uma participação especial FODA no
nosso show, deverá ser divulgado mais próximo do evento caso se concretize.
Finalizando, agradeço pela disponibilidade e deixo o espaço final a
vocês! Nos vemos no Bangers!
Conte sempre conosco.
Obrigado sempre. Nos vemos lá e em outros eventos de Metal no Brasil. Evil Has
No Boundaries! STAY EVIL !
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