Entrevista: Slippery Mostrando o Poder do Hard Rock Nacional

Uma das revelações do Hard Rock nacional

Em uma época fonográfica um tanto difícil, ainda temos bandas que se destacam e mostram o outro lado da história, que é o trabalho duro, dedicação e amor ao que faz. E um bom exemplo é a banda Slippery, que além de investir em um Hard Rock com pitadas de Metal tradicional, trabalha duro e se dedica ao que faz, mostrando que podemos sim alcançar nossos objetivos ao meio de toda essa revolução na industria musical. Conversamos com o guitarrista Dragão, que nos conta o que acha do underground atualmente, além de contar um pouco a história do Slippery e de como é fazer Hard Rock no Brasil.

Com vocês na figura de Dragão, Slippery:


HAH: Conte-nos um pouco como nasceu a Slippery. A proposta foi sempre voltada para o Hard Rock ou a sonoridade do grupo foi se moldando com o tempo?

Dragão: A banda foi planejada, por assim dizer, no final de 2003, tendo de fato iniciado as atividades com rotinas de ensaios e pequenos shows ainda no começo de 2004. Desse período, os remanescentes somos eu e o Rod Rodriguez (baterista). Nossa proposta sempre foi realmente voltada para o Hard Rock, com o passar do tempo posso afirmar que nossa sonoridade foi se moldando devido ao amadurecimento técnico e criativo do grupo, mas não devido a uma mudança no direcionamento do estilo.

HAH: Em 2007 vocês lançaram o Ep “Follow your Dreams” e a repercussão foi extremamente positiva. Vocês esperavam por essa resposta do publico?  O EP teve a tiragem esgotada, existem planos para recolocá-lo no mercado?

Dragão: Olha, me arrisco a dizer que a repercussão desse EP realmente superou nossas expectativas. Todos os meios especializados receberam o EP com grande empolgação. Esse trabalho nos foi como uma ferramenta de grande valia na abertura de portas que até então não havíamos explorado, tivemos a oportunidade de abrir alguns shows, como o de Jimi Jamison (Survivor), Jeff Scot Soto (Malmsteen, Talisman) e L.A. Guns, além de incontáveis apresentações muito bacanas pelo interior e até mesmo em outros estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Dragão (guitarra) nos conta sobre o que acha da cena nacional, relatando sobre a evolução que vem passando a industria  fonográfica 

HAH: Como vocês descreveriam o álbum “First Blow” para quem nunca ouviu? Vocês mudariam algo no resultado final do disco se pudessem?

Dragão: É muito complicado isso, afinal, somos suspeitos pra falar do disco (risos). Mas sem medo de soar pretensioso, eu o descreveria como “uma volta ao passado, uma amostra de que o Hard Rock e Heavy Metal podem, sim, ainda soar grandiosos com a receita praticada na década de 80, sem o ‘invencionismo’ desnecessário de bandas que buscam reinventar o estilo”. Gostamos dele em sua forma original, uma boa melodia, um bom refrão e por aí vai.


HAH: Ao ouvir esse CD é impressionante a qualidade das canções. Diga-nos como foi o processo de composição das mesmas? E qual o segredo para as passagens de guitarras tão matadoras?

Dragão: Obrigado, fico muito feliz com suas palavras! Como costumamos dizer, o processo de composição é absolutamente livre, todos na banda têm total liberdade pra apresentar uma música, uma idéia ou sugestão. Não há regra alguma nesse processo se não o bom-senso. A grande maioria das canções apresentadas no álbum são composições de autoria minha e do Kiko, talvez seja esse um dos motivos de “puxarmos a sardinha” pro lado das guitarras (risos). Mas há também faixas onde a participação de outros membros tenha sido fundamental para a conclusão ou mesmo canções em que todos atuaram ativamente como no caso da faixa título “The First Blow”.

Capa do aclamado "First Blow"

HAH: Qual o perfil do público da Slippery?  Pergunto por que a sonoridade de vocês transita entre o Hard Rock até mesmo o Metal tradicional, o que deve atrair um leque maior de fãs, certo?

Dragão: Esse e um ponto bastante interessante. Realmente nossa sonoridade tem muito desses dois elementos, até porque somos fortemente influenciados por toda uma geração de bandas que assim o fazia, transitavam de forma muito natural entre o Hard Rock e o Heavy Metal. Se você pega um disco do Quiet Riot, por exemplo, numa determinada faixa você tem certeza de que está apreciando um álbum de Hard Rock e de repente numa próxima você se pega pensando “Caramba! Espera aí, isso é Heavy Metal!”. Há uma linha muito tênue entre ambos, e isso de fato acaba por chamar a atenção de fãs que pendem mais para o Hard Rock, bem como daqueles que nutrem uma admiração maior pelo Heavy Metal tradicional.


HAH: As letras do Slippery fogem daquela velha ladainha de “Sexo, Drogas e Rock roll”, sendo que é latente uma mensagem de otimismo em muitas delas. Existe na banda um membro responsável pelas letras ou essa é uma atividade dividida por todos?

Dragão: Bom, assim como no processo de composição das músicas, o trabalho com as letras também é livre e aberto a todos. Penso que acabamos naturalmente seguindo por uma linha adotada pelo Hard Rock europeu, com letras mais ‘sóbrias’, fugindo um pouco da temática abordada (com maestria) pela escola californiana, digamos assim. Nunca falamos a respeito ou restringimos algo nesse sentido, acho que foi um consenso implícito e que vem funcionando. As letras contidas no disco, em sua maioria, foram também escritas por mim e pelo Kiko, mas há também letras escritas em conjunto e até mesmo compostas exclusivamente por outros integrantes.

Erico Moraes (baixo)

HAH: A cena Metal no Brasil cresce a olhos vistos, porém ainda temos muitos desafios e obstáculos a serem superados. Na visão de vocês, o que impede as bandas brasileiras de qualidade ganharem o devido reconhecimento?

Dragão: Vejo muitas bandas reclamando da falta de reconhecimento, falta de espaços para divulgação dos trabalhos, penso que em muitas das vezes a culpa é do próprio artista, muitos não movem uma palha e ficam esperando que os resultados apareçam, as bandas nesse meio Rock/Metal têm uma tendência de se “vitimizar”, de achar que essa falta de apoio está presente exclusivamente nesse meio. Nossa cultura (enquanto obrigação do estado) está sucateada. Não creio que seja mais difícil para um artista do Metal do que para um instrumentista de chorinho, ou ainda para um ator do circuito amador. Todos nesse meio enfrentam muitas dificuldades. E como procuro sempre enfatizar, nunca pedi que alguém fosse a um show da Slippery para “apoiar a cena”, queremos que as pessoas vão porque sabem que vão ver um bom show, porque gostam das nossas músicas, porque de alguma maneira se identificam com o nosso trabalho.


HAH: Com o perdão da expressão, mas o cover do Demon  ficou “do carvalho”. Existiu algum motivo especial para a escolha desta musica (Night of the Demon)? Quais são as bandas que vocês poderiam apontar como referencia na sonoridade do Slippery?

Dragão: Muito obrigado, legal que tenha gostado! Durante os ensaios sempre tocamos um cover ou outro, estejam eles previstos para entrar num setlist ou não. Dentre esses vários covers estava “Night of The Demon”, já gostávamos bastante do resultado dessa música ao vivo e somos todos grandes fãs de Demon, bem como de muitas outras bandas que surgiram nesse cenário da NWOBHM. Entramos em contato com Mike Stone (manager) e manifestamos a intenção de gravar essa faixa, ele se mostrou bastante empolgado e nos cedeu à autorização. Enviamos a master final pra ele e recebemos sua aprovação, foi uma grande honra!

Fabiano Drudi (vocal)

HAH: Infelizmente nunca tive a chance de presenciar uma apresentação da banda ao vivo, então diga-nos como é um show da Slippery e que musicas não podem ficar de fora do setlist?

Dragão: Nossas apresentações são sempre muito empolgantes. É um show bastante energético e sempre que compatível com o local arriscamos algumas pirotecnias. Vamos sempre com muita vontade para um show, queremos ter a certeza de que estamos dando o nosso melhor, pois o público está ali, esperando sempre o melhor de você. Quando há tempo hábil, procuramos tocar o disco na íntegra e sempre que possível incluímos um ou dois covers que variam bastante, de Quiet Riot à Fastway, de WASP à Dio.


HAH: Lendo algumas entrevistas anteriores de vocês, me chamou muito a atenção uma opinião sobre a indústria fonográfica e os downloads de MP3. Na opinião de vocês, as bandas não são afetadas diretamente por essa nova realidade?

Dragão: Sendo bem sincero, não sei se os demais compartilham dessa minha opinião, talvez seja uma visão particular minha, mas eu não vejo diferença alguma entre a indústria fonográfica e a automobilística, ou ainda a têxtil ou farmacêutica, por exemplo, senão pelo produto final que visam disponibilizar no mercado. Se todas as outras indústrias sofreram o impacto de novas tecnologias, descobertas científicas, etc. Porque haveria de ser diferente com a fonográfica? Todas as demais souberam se adaptar a essas mudanças para permanecerem no mercado e evoluir com ele. Assim como muitos fãs, eu gosto de ter o disco em seu formato físico, gosto de ler os encartes, mas há quem prefira a mobilidade e praticidade de um arquivo em formato MP3. Enquanto membro de uma banda, não vejo motivos para não disponibilizar um trabalho nesse formato, é sabido que os ganhos massivos dos artistas vieram sempre de suas apresentações e a vendagem de discos sempre foi o fator primário de enriquecimento dessa indústria, não me parece estranho que continuem até os dias de hoje nadando contra essa corrente.

Kiko Shred (guitarra)

HAH: Sendo vocês uma banda 100 % calcada no Hard Rock clássico, como vocês analisam essa onda do Sleaze onde aparentemente muitas bandas optam por uma sonoridade mais suja, com certas influencias do Punk?

Dragão: Cara, ouvi pouquíssimos trabalhos de bandas que seguem por essa vertente. Talvez pouco para opinar à respeito, mas o suficiente para não me interessar em conhecer mais. Não é algo que me agrada, mas que também de forma alguma me incomoda (já que não ouço). Torço por todas as bandas e artistas que fazem um trabalho sério.


HAH: Obrigado pela entrevista. Todos nós esperamos a chance de ver vocês aqui no Sul. Para finalizar, gostariam de deixar algum recado para os leitores do Heavy And Hell?

Dragão: Muito obrigado! Nós é que agradecemos a oportunidade de falar um pouco sobre nosso trabalho. Será um imenso prazer visitar o Sul do país e tenho certeza de que em breve nos veremos por aí! Um grande braço à toda equipe do Heavy And Hell, e um abraço ainda maior à todos o leitores! Espero que nos vejamos muito em breve. Gostaria de deixar aqui um muito obrigado ao Eliton Tomasi e Som do Darma pelo grande trabalho de parceria que vêm fazendo com a Slippery!

Rod Rodriguez (bateria)


Conheça mais a banda:
Palco Mp3
Confira a resenha de "First Blow" aqui.

AssessoriaSom do Darma

Entrevista por: Luiz Harley
Introdução: Renato Sanson
Revisão & Edição: Renato Sanson
Fotos: Slippery

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