Entrevista – Uillian Vargas: Ninguém quer contratar um “mala”. Isso era “bonitinho” lá na década de 70/80

Por: Renato Sanson

Fotos: Uillian Vargas


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São anos na ativa e uma história resiliente no mundo da fotografia. Como é se manter relevante no cenário fotográfico?

É um exercício bem braçal, na verdade. É preciso estar muito ligado no que está acontecendo no mundo fotográfico. Estar muito conectado com as referências, às vezes, inclusive para fugir do clichê. Não há problema algum em traçar o caminho do clichê, ele funciona muito bem e há muito tempo, desde que com toque de identidade e criatividade. De outro lado se utilizar da era da comunicação, para dialogar de forma profissional com teu ambiente de atuação. As pessoas/empresas/clientes precisam estar por dentro do que o profissional é capaz de realizar. Isso requer bastante atenção e nós fotógrafos, temos que saber até que ponto damos conta disso sozinho. Eu - o fotografo - tenho que saber sobre fotos e dominar esse assunto. Quando a demanda comunicativa fica muito alta, acho que é o ponto para procurar um profissional de comunicação, para ajudar a transmitir o teu trabalho, para o mundo. Um social media é uma excelente dica, quando esse momento chega. Além disso ter um equipamento sempre bem manutenido e atualizado. Construir uma relação profissional saudável junto ao ambiente que tu atua. Ninguém quer contratar um “mala”. Isso era “bonitinho” lá na década de 70/80, hoje em dia ninguém tem paciência pra aturar chiliquento. Acredito que é mais ou menos por esse caminho. Ao menos, são coisas que eu sigo. Como diz o Testament: PRATICE WHAT YOU PREACH

 

Uma questão curiosa foi o teu início na fotografia. Algo bem inesperado lá por 2009 se não me engano. Conte-nos sobre esse momento.

Eu sempre estive cercado pela fotografia, por mais trivial que esse comentário possa parecer. Mas gosto de usar como marco inicial, o show do Sebastian Bach. Eu já havia feito algumas resenhas para o Road To Metal, então em 2013 surgiu essa oportunidade de poder clicar um ídolo. Eu cresci com posters do Skid Row na minha parede. Nessa ocasião, eu teria que resenhar e clicar. Na época, havia uma câmera semiprofissional da Nikon disponível. Minha queridíssima amiga Amanda havia comprado uma D3000 (modelo antigo e super básico – nem filmava) para clicar para sua dissertação de mestrado e a câmera estava lá de bobeira. Então ela me emprestou, eu tive certa de uns 10 dias para poder aprender a mexer na câmera. Na hora do show eu acabei passando bastante trabalho para fotografar, como esperado (risos) e as fotos ficaram umas belas de umas porcarias – como esperado (risos). No dia seguinte, ainda incrédulo, eu olhava as fotos e achava maravilhoso, na época. Eu nem pensava (e acho que nem sabia) que era possível mexer em pós. Mandei pra redação do site, do jeito que saíram da câmera. Intimidade zero com o processo fotográfico. Eu ainda “não era fotógrafo”. Com passar do tempo, o que iniciou como hobby, logo acabou tomando outra proporção quando comecei a observar outros fotógrafos, como se comportavam, como agiam. Mas como passar do tempo, aprendi a olhar para elas com carinho e respeito. Fazem parte do meu processo, tudo tem início. O meu, na fotografia, foi assim.  

Em sua opinião, quais os maiores desafios que um fotografo enfrenta atualmente?

Hoje há uma grande concorrência com os celulares, que deixaram de ser apenas celulares. Ao evoluírem, se transformaram em uma grande ferramenta diária, uma extensão do corpo, inclusive, câmera. O desafio, em relação a fotografia profissional, não é exatamente a foto. Existem coisas que um smartfone nunca vai conseguir realizar, comparado com uma câmera DSLR (ou mirrorless) acoplada com uma lente 300mm (por exemplo). O desafio é a velocidade com que as fotos circulam em algum evento. Isso meio que convida os profissionais da fotografia a entregar as fotos para o cliente, o mais rápido possível. Hoje, é impensável demorar uma semana para entregar fotos. Há quem faça, mas sinto avisar, vai acabar perdendo mercado logo em razão da demora. Eu, hoje, atrasado entrego as fotos dois dias depois. Normal é entregar, pelo menos metade no dia, e o total no dia seguinte. Procuro clicar com os parâmetros foto metrados exatos para proporcionar poucos ajustes de pós, assim sendo dedicando menos tempo com edição ou correções pesadas. Tem funcionado e sei de, pelo menos, dois clientes grandes com quem trabalho, que dão preferência pra esse tipo de entrega. Qualidade, compromisso e velocidade.


Falando de equipamentos e lentes. Como está o teu acervo atualmente?

Hoje meu kit é um kit intermediário. Eu ainda sofro um pouco com eventos mais escuros, ainda tenho que investir bastante e como tudo é importado, a “brincadeira” dos gastos só tem começo (risos). Mas ainda assim eu consigo me dedicar a resolver situações mais complexas, porque eu “estudei” meu equipamento. Eu sei exatamente o limite que posso ir e resolver as situações. Tenho uma excelente câmera (e se disse excelente, só pode ser Nikon – brincadeira haha), é uma D7200. Modelo cropada, mas com um sensor bastante evoluído para sua época que resolve todas as situações que estou inserido, seja show ou evento fechado. Tenho uma lente 70-300mm que faz fotos a meia distância e longe. Mas é um lente zoom, então se tiver longe, melhor. Entre outras lentes para perto também. Mas mais importante que ter um equipamento massa, é conhecer e saber o limite do equipamento, isso vai definir bastante o resultado do trabalho.

Quais são as tuas principais referências no mundo fotográfico?

Baita pergunta! Cara, eu tenho a grande honra de poder me apaixonar por trabalhos de amigos que são minhas referências. Tenho alguns “gringos” que eu sigo no Instagram que fazem trampos incríveis. Ao mesmo tempo tenho sim os grandes clássicos os quais eu sou muito fã, e não tem como ser diferente. Lendários como Henri Cartier-Bresson (mestre das sombras). A Margaret Bourke-White, uma das primeiras (ou a primeira) mulher a clicar a segunda guerra mundial, imortalizou momentos horríveis da história. O Louis Daguerre, que mudou o mundo com a fotografia com sua criação, o Daguerreótipo. Mas esses, todo fotógrafo vai dizer que é fã (e se o cara se dá respeito como fotógrafo, tem que ser fã mesmo), porém eu tenho grandes amigos que também me inspiram. Caras como o Zé Carlos de Andrade (@zecarlosdeandrade), William Inacio (@willnacio), Fernando Pires (@flpiresphotography), Eduardo Rocha  (@eduardorochafotografia) dentre muitos outros. Ze Carlos além de inspiração é parceiro de trampos, aprendo muito com ele. Grande Will é um monstro da fotografia. Fernando esteve no meu TCC. Fora esses com quem tenho contato, tem o Jose Mario Dias (@josemariodias), que enquanto escrevo esse texto, ele está cobrindo as 24 horas de Le Mans (circuito de Le Mans na França). E por último tem o paraense que fez um trabalho incrível cobrindo a guerra na Ucrânia, chamado Gabriel Chaim (@gabrielchaim). Chaim fez um trampo incrível para CNN, Spiegel TV e Globo TV, além de já ter sido indicado ao Emmy, e só de olhar as fotos dele, dá para entender a indicação.


Para quem está recém engatinhando na fotografia, quais dicas você daria?

Primeiro lugar, pontual e certeiro: Estude e conheça seu equipamento. Só isso já vai te livrar muita dor de cabeça. Se tu for da turma que não gosta de ler manual, tem tudo no youtube, então não tem desculpa. Como diz nosso querido Clovis de Barros filho: “É horas de bunda na cadeira e estudo, o resto é preguiça e covardia”.

Segundo lugar: Se é pra entrar de cabeça na foto, tente se comportar da maneira mais profissional possível. As pessoas (clientes e colegas) reparam SIM, nas tuas atitudes, ações, cuidados e interações. Além, claro, da qualidade do teu resultado entregue ao cliente. Esse conjunto de ações vão determinar possíveis parcerias no futuro. E acredite, sozinho, é muito mais difícil de sair da estaca zero, então leve isso em conta na hora de partir pra ação.

Terceiro: Esteja sempre o mais atualizado o possível. Se não puder ter um equipamento de ponta, saiba que eles existem e defina um rumo de onde quer chegar. A pouco tempo escutei de um amigo experiente dizer: “Se ainda não está aonde quer chegar, tenha certeza de que tu está o mais perto possível disso. Quem já “está lá”, vai enxergar teu esforço e vai te ajudar a subir mais um degrau”. Eu parei e pensei: Claro, isso é muito real e faz todo sentido. Com alguma ajuda, sempre vai ser menos doloroso conquistar. E quando conquistar, por menor que seja essa conquista, comemore. Vibre e lembre dessa energia, ela vai ser uma baita companhia nos momentos complicados. 

Eu poderia enumerar infinitas situações baseadas somente nas coisas que eu aprendi, mas acho que esses três passos vão dar um bom norte para quem está começando. E se precisar de ajuda, já sabe, chama no @uillianvargas, podendo, será uma satisfação ajudar com o pouco que sei.

São inúmeros shows e eventos fotografados. Qual ou quais destes você destacaria?

É brother, já são inúmeros mesmo. Nomear um só seria covardia com a minha pequena história, mas marcante para mim. Eu saí do interior, do Alegrete, e de lá para cá, realizei coisas impensáveis. Estive diante (e alguns fotografei) ídolos da minha vida. Se eu voltasse no tempo, 20 anos para o passado contando de agora, e me encontrasse e contasse 10% do que eu já vivi, não acreditaria em nada. Já fotografei Iron Maiden, Erasmo Carlos, Zakk Wylde, Deep Purple, Amorphis, Moonspell, Tim Ripper, Paul Di’anno, Alceu Valença, Zé Ramalho, Nervosa, Sonata Arctica... Cara, não tem como nomear um que destacou, sinto muito (risos)!

Sensacional poder conversar com um profissional tão talentoso e fora da minha zona de conforto (que é o Heavy Metal). Deixo o espaço final para você e que possamos conversar novamente em breve! Muito obrigado pela atenção.

Eu agradeço demais pela oportunidade de poder contar um pouco dessa trajetória. Para cada pergunta, eu parava e olhava pra pergunta e muita coisa me veio na memória pra poder formular as respostas. Obrigado pelo elogio, é uma honra poder estar figurando entre os grandes artistas que já foram entrevistados pelo Heavy And Hell.

Como mensagem digo aos leitores que, fotografem, criem memórias estáticas, gerem fragmentos congelados do tempo e, claro, se puderem se joguem na oportunidade de ser clicado por um profissional da fotografia. A arte de se ver, pelos olhos alheios, é indescritível. Sigam-me no insta e me chamem no inbox, vamos falar sobre fotografia!

 

 

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