Por: Uillian Vargas
Na ativa por um quarto de século, Grand Magus chega às bordas de 2025 lançando seu décimo full-length. A banda vem construindo seu legado e ganhando cada vez mais respeito entre os fãs de Heavy Metal, Stoner e Epic Metal. E não é nem um pouco difícil de dar razão a essa expansão, basta dar uma apreciada nas obras que compõem a trajetória da banda, que se há de identificar, em todas as obras, elementos que agradam os fãs desses estilos.
Desde o principio dos tempos,
capitaneados pela trovejante voz de JB, o grande farol que aponta para o norte,
que nunca deixou a banda se perder no vasto universo que se tornou o Heavy Metal,
Grand Magus é um grupo coeso e passou por pouquíssimas alterações de componentes.
Grand Magus é Fox Skinner no baixo desde 1999, este que também já acompanhou a
poderosa Heavy Lead em apresentações. Junto ao Fox então temos JB
Christoffersson na guitarra e voz. JB já fez parte da conhecidíssima banda de Stoner
chamada Spiritual Beggars, quando conheceu o então atual baterista da Grand
Magus (e amigo), Ludwig Witt.
Ludwig se juntou a Grand Magus em
2012, dessa forma, o membro mais “recente” da banda, já passou de uma década de
permanência, e empunhou baixo na metade dos discos de estúdio do grupo.
Das gélidas e longínquas terras
Holmienses a Grand Magus nos presenteia o
SUNRAVEN (2024). Para além de um disco muito bem construído e
harmonioso, a bolachinha carrega em sua essência exatamente tudo aquilo que os fãs
da banda (e dos estilos que se apresentam) esperam. Riffs bariátricas
(neologismo deste que voz escreve), vocal marcante e poderoso, guitarras
pesadas, um baixo maravilhosamente preenchedor e a cozinha se completa com uma percussão.
Ao lado de todo esse compêndio arquitetônico arranjado, desdobra-se, até então
pela primeira vez na história do grupo, todo um conceito majestoso que dá vida
ao disco. A história que preenche o pano de fundo das hipnotizantes melodias,
não é nada mais, nada menos que o épico poema de Beowulf. Escrituras indicam que
o poema foi escrito em anglo-saxão por volta do ano 1000 de nossa Era. Narrava
historia do incrível guerreiro com força descomunal, especialista em exterminar
temidas criaturas sobrenaturais. Seu legado de vitórias e conquistas o levou a
ser Rei da Saxônia, após a derrota do terrível Grendel, e só então, esta terra
experimentou paz e tranquilidade por 50 anos. SUNRAVEN, então oficialmente um
disco conceitual, traz na sua execução toda essa aura embalada pela estética
glacial dos mitos e dos ritos.
Cuidado Grendel, e agora não com Beowulf, mas sim com a Grand Magus!
O disco abre com SKYBOUND, que
pode ser livremente entendido como alguém que está destinado aos céus em
redenção! Ou seja, já abre discorrendo sobre uma vida que chegará ao fim, mas
que irá desfrutar das maravilhas do Valhalla no além morte. E a abertura da
obra não é outra coisa, senão uma trilha sonora adequada para embalar o
Ragnarok. Heavy Metal da melhor qualidade. Não é atoa que foi uma das
escolhidas para ser um Single do disco. Porém, a coisa só melhora quando chega
WHEEL OF PAIN. De arrancada já vem a cabeça a analogia baseada nas palavras
de Friedrich Nietzsche: “Tudo que não
nos mata, nos fortalece”. Ou seja, sendo forte o suficiente, o narrador sairá
da roda da dor, ainda mais forte. Em analogia, claro, também faz referencia ao
legado de Beowulf, que não foi construído somente de vitórias.
E assim, faixa por faixa, o disco
vai discorrendo o Storytelling envolvente sobre a narrativa do grande lobo de
guerra até seu crepúsculo. Pelo visto a banda continua investindo em algumas
músicas mais longas, claro, nada mais se compara aos mais de dez minutos da “He
Who Seeks... Shall Find”, do “Monuments” (2003). Mas em “Sunraven”, por
exemplo, temos a belíssima THE BLACK LAKE, que se esparrama compassada, pelos
seus cinco minutos e meio despejando toda proficiência Stoner. Que
sonzeira!
Logo a seguir após a HOUR OF THE
WOLF, chegamos ao ponto alto do disco. Uma quase “Elegia”, falando sobre o
terrível Grendel. Heavy Metal na essência pra discorrer sobre as desgraças
promovidas pelo horrível. Pois bem, a música se limita a narrar a noite do
ataque ao grande salão do rei Hrothgar da Dinamarca. Momento que procede a
chegada de Beowulf. Grendel tinha por costume, atacar e devorar seus inimigos e
suas montarias: “Grendel - he’ll eat your heart / He’s Grendel - tear you
apart”. Nessa noite Grendel teve azar, pois entre os guerreiros que estavam no
salão do Rei, havia um com força descomunal que ele não conseguiu vencer.
Beowulf o ataca e arranca um dos braços da besta. Seguindo o rastro de sangue
ate a caverna de Grendel, Beowulf dá o trabalho por encerrado (ainda há o
ataque promovido pela mãe de Grendel, mas essa é outra história). História que
segue sendo contada na música seguinte: HEOROT, que por sinal, é o nome do
grande salão de festas do Rei Hrothgar da Dinamarca. Nos filmes e animações
sobre o herói, narram como se Grendel fosse uma espécie de “filho bastardo do Rei”,
mas oficialmente o poema não faz nenhuma referencia a essa conexão.
Pra encerrar a saga, a breve THE
END BELONGS TO YOU. Um tratado de despedida muito bem compassado por um
heavyzão com elementos bem harmonizados.
Friamente falando, com o “Sunraven”
a Grand Magus não reinventa a roda. E sejamos francos, não tem a menor
necessidade dessa tentativa. Tudo que foi feito até aqui, soou muito bem (e
temos visto alguns tentativas de reinvento, e soam lamentáveis). Como um
admirador da banda, me digno a afirmar que “Sunraven” somente cumpre o protocolo
em ser um disco ótimo com as ferramentas que o estilo nos proporciona. Do meu
ponto de vista: Ponto super positivo para a Grand Magus. Foram além do que já
haviam feito até hoje no termo da conceitualidade do álbum, porém acertaram em
cheio. Nos demais quesitos do disco, pesaram bem o conservadorismo da
identidade que conquistaram, e isso
provavelmente deve ter agradado em muito os fãs. Por detrás dos botões da
engenharia sonora, está um velho conhecido, Staffan Karlsson, que já esta com a
banda desde 2014 com o “Triumph and Power”, e 2019 com o “Wolf God”.
Disco saiu mundialmente pela
Nuclear Blast e no Brasil, chegou pela Shinigami Records. Se curte Heavy Metal
e Stoner com pano de fundo viking, esse disco é “teu numero”. Erga um Horn
cheio de malte, solte o som e peça sua benção pra Odin, enquanto ainda há
tempo!
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