- Olá Manu Joker. Obrigado pelo seu tempo em meio a correia das atividades com a UGANGA. Logo de cara, tomei um susto com o lançamento do álbum “Ganeshu”, em total imersão ao Crossover. O que deu na cabeça de vocês para gravarem algo com esse direcionamento?
Manu Joker: Salve mano, tudo certo? Cara o Crossover sempre esteve presente no espectro musical do Uganga, eu diria que somente no nosso primeiro trabalho (Atitude Lotus - 2002) ele não tenha dado as caras. Eu já venho dessa cena oitentista com o Angel Butcher desde o final de 1985, fomos contemporâneos de bandas como Cryptic Slaughter, Excel, English Dogs, Lobotomia e S.O.D., essa fusão entre metal e punk me acompanha desde o início e está na base das minhas referências musicais. Em relação ao Uganga eu acho que temos em nossa discografia álbuns mais experimentais, outros mais extremos, complexos, e alguns mais influenciados pelo rap e dub, porém nunca perdemos nossa assinatura. O Crossover tradicional não basta para definir nossa sonoridade mas é com certeza uma grande referência. “Ganeshu” é um álbum técnico, brutal e direto que honra nosso passado e mira no futuro.
- Como funciona o processo de composição da banda? Acredito que seja algo mais orgânico e intimista, com todos os músicos fazendo jams em estúdio, estou certo?
Manu Joker: Mais ou menos, com certeza é um processo bem orgânico mas pouco pautado em jams. Normalmente, em especial do “Vol.3: Caos Carma Conceito” (2010) pra cá, cada um vai salvando suas ideias em arquivos digitais e quando começamos a pré produção de um álbum eu reuno esse material e organizo pra gente começar a trabalhar juntos em estúdio. Desde o início da banda atuo também como produtor, em especial na fase de composição e pré-produção, e acredito que desenvolvemos um método interessante de trabalho durante esses anos. Muitas demos nascem de reuniões entre 2 ou 3 integrantes trabalhando às primeiras ideias somente com um computador, percussão e violão, outras vem em uma track de um determinado instrumento, de ideias gravadas no celular e algumas poucas realmente nascem em jams. Confesso que de todas as inúmeras maneiras de trabalhar um novo material a que eu acho mais chata e desinteressante é a demo onde um determinado integrante grava tudo, obviamente com ênfase no seu instrumento, e manda a música “pronta”, engessada. No caso do UG isso pode ser bem frustrante pois somos uma banda e não um projeto solo, nossa assinatura é fruto disso. Eu sinceramente acho que bandas genéricas mesmo que extremamente técnicas são mato, principalmente nos dias atuais tanto na estética, quanto na sonoridade e até na produção. Tenho zero interesse por isso.
- O disco traz homogeneidade em termos de qualidade e maturidade musical. Como os fãs da banda têm reagido ao material?
Manu Joker: Ainda sobre a sua pergunta anterior eu diria que homogeneidade e efetividade de “Ganeshu” é fruto da nossa maneira de trabalho, focada em limar excessos, estar sempre atentos aos detalhes e tentar deixar o ego bem no fundo da gaveta (risos). O que importa é o resultado do coletivo, obviamente dentro de uma assinatura que definitivamente não nasceu com esse álbum, e acredito que tanto quem já nos acompanha faz tempo quanto quem está nos conhecendo agora percebe isso. Temos obtido excelentes resenhas, o desempenho nas plataformas de streaming está bem legal e os shows tem sido o real e caótico espelho dessa receptividade positiva.
- A banda pretende lançar algo no formato físico no futuro na Europa, já que fazem parte de uma grande gravadora na atualidade? Queria muito poder ouvir um álbum novo de vocês nestes moldes novamente…
Manu Joker: Já lançamos dois trabalhos em formato físico no mercado europeu, temos também um ao vivo gravado na Alemanha e fizemos duas tours por lá onde rodamos bastante. Teve também a parceria com a Wacken Foundation na prensagem do “Servus” (2019) que foi muito importante. A Europa é um mercado interessante pro Uganga e definitivamente queremos lançar não só o novo play como também o próximo por lá, e a parceria com a MS com certeza será muito importante nesse processo. Nós estamos definitivamente focados nisso mas antes “Ganeshu” sai em formato CD digipack aqui no Brasil, acredito que entre fevereiro e março de 2026.
- “A Profecia” é um Single que me identifiquei bastante! Você pode nos contar como foi o seu processo de composição? Vocês lançaram o videoclipe desta música também e o resultado ficou simplesmente incrível. O que você pode nos falar sobre esse trabalho?
Manu Joker: Essa foi a primeira música composta pro álbum, numa fase onde ainda estávamos contando com o suporte de alguns amigos na tour do “Libre!”, durante as mudanças de formação pelas quais a banda vinha passando. Paulo Bigfoot (Delinquentes) foi um desses amigos que tocou com a gente nessa fase, e no período que estivemos juntos na estrada trabalhamos a demo desse som. Um riff inicial inspirado em Propagandhi e uma viagem incrível e crucial à Amazônia Paraense, essa é a gênese desse som e a inspiração pro clipe.
- Como está a banda no âmbito dos shows? A agenda de vocês costuma ser cheia? A aceitação está sendo positiva por parte da imprensa e fãs com relação ao trabalho ao vivo?
Manu Joker: Nos temos tocado bastante na “Ganeshu Tour”, até agora fomos pro sul três vezes e rodamos bastante pelo sudeste também. Creio que já fizemos perto de 30 apresentações onde tocamos em gigs bem locas com bandas tipo Sujêra, Casualties (EUA), Gangrena Gasosa, Malefactor, Ratos De Porão, Black Pantera, Tonelada, Terceira Guerra, Pachorra, Chaos Synopsis, inclusive passando por alguns festivais, e tanto as resenhas desses shows quanto os seus públicos tem nos deixado bastante animados. Na verdade tudo isso é importante mas o essencial é a banda estar convencida que a entrega tem sido boa, e estamos totalmente cientes disso. Se você planta você colhe.
- “Ganeshu” tem uma arte de capa muito legal. Quem a produziu e o que vocês querem dizer com ela?
Manu Joker: O arte gráfica ficou novamente com a Deadmouse Design, que já tinha trabalhado com a banda no play anterior (“Libre!” - 2022), e foi baseada no título do álbum, que se refere a uma entidade fictícia que criei unindo as figuras do Deus Ganesha e do Orixá Exu. Duas figuras diferentes mas com muitas similaridades entre si. Ambas são relacionadas a dissolução de obstáculos, a transmissão de mensagens, e muitas vezes também são demonizadas por aqueles que vivem mergulhados na ignorância de se temer e julgar o diferente. Asrepetição cores escolhidas também representam essas duas entidades assim como as figuras do gato preto, do tridente, do japamala (colar de contas usado para a meditação e a de mantras) e da flor de lótus. A união dessas figuras também representa a nossa fusão de estilos, o nosso crossover livre com cheiro de coturno, incenso e ganja.
- Quando a banda está em estúdio, vocês costumam trabalhar com um produtor externo ou preferem se auto produzir?
Manu Joker: A gente gosta de ter uma pessoa co-produzindo com a gente na hora de gravar, e desde “Opressor” (2014) essa pessoa é o mestre Gustavo Vazquez, do Rocklab Estúdio (GO). Nesse período de 2014 pra cá ele só não esteve conosco no “Libre!”.
- Quais os planos para o ano de 2025 com a UGANGA? Sinceramente torço para mais shows e um novo álbum completo…
Manu Joker: 2025 está quase no fim mas ainda temos algumas datas por SP e MG. Também vamos lançar até dezembro o primeiro de quatro episódios de um documentário chamado “Ganeshu: 3 Décadas 4 Elementos” focado na gênese do álbum e no renascimento da banda nesse período. Os outros 3 episódios sairão em janeiro, fevereiro e março de 2026 junto com a continuação da tour, vamos levar esse giro para todas as regiões do país.
- Novamente parabéns pelo trabalho ao lado do UGANGA... Agora é o momento das considerações finais de vocês...

Comentários
Postar um comentário