Por: Renato Sanson
Músicos entrevistados: Samuka (baixo) e Phil Lima (vocal/guitarra)
Voltando um pouco no passado, em 2020 vocês debutavam com “Sandstorm”. Que teve como mentor o renomado guitarrista do Angra Rafael Bittencourt. Conte-nos sobre esse início e parceria.
Foi uma parceria que começou de
forma despretensiosa. Phil já era amigo do Rafael, e assim que lançamos nosso
primeiro single, ele enxergou bastante potencial na banda e ligou para o Phil
pra comentar que tinha curtido muito, mas perguntou quais eram nossos
objetivos. Segundo ele, o som e a mix estavam muito bons considerando o mercado
sul-americano, mas se tratando de Europa, Estados Unidos, tínhamos alguns
aspectos para aprimorar. Então Phil e eu fomos a São Paulo e passamos um dia
inteiro conversando sobre a banda, objetivos, ouvindo as demos... inclusive foi
nesse dia que nasceu o rascunho da música “Rise For Glory”. Seguimos
comunicando online após esse dia e Rafael sempre foi um grande parceiro da
Medjay! Já tivemos a honra de dividir os palcos com o Angra em duas
oportunidades em 2022, em Belo Horizonte, na Autêntica, e em São Paulo, no
Tokio Marine Hall.
A cultura egípcia de fato é muito atraente e empolgante. Vocês trazem
essa bandeira desde o nome da banda, simbolizando os guerreiros Medjay.
“Cleopatra VII” segue ainda mais aprofundado nesta cultura. Como foi a questão
criativa e histórica para encaixar em cada camada?
A ideia desse projeto surgiu há
alguns anos quando Samuka procurava criar uma banda autoral séria onde ele
pudesse colocar em suas letras e conceito, a cultura Egípcia.
O nome Medjay foi tirado da
História do Egito Antigo. Eles foram um povo guerreiro que habitava a região do
Sudão do Sul e que ao longo do tempo se tornou a guarda real dos faraós. Medjay numa tradução literal significa
Guerreiro do Senhor (Faraó). Medjay para nós é também entendido como um
espírito de coragem e luta que está presente em toda a História humana, por
isso em cada lugar que há um povo guerreiro, ali os Medjay se fazem presentes.
Gostaria que comentassem onde surgiu esse interesse pelos egípcios.
Alguém da banda tem essa vivencia historiadora em termos de formação?
Samuka é formado em História e
professor há 20 anos, apaixonado por Egiptologia. Os demais integrantes já
achavam a temática interessante e mergulharam de cabeça assim que ele veio com
o convite para formar uma banda com essa temática.
Particularmente eu gosto muito das mitologias e antiguidades. Penso que podemos aprender muito com as mesmas. Que mensagem o Medjay está passando ao público com essas colocações históricas?
Exploramos em nossas músicas
tanto os mitos, que são muito cativantes e interessantes, quanto aspectos
contemporâneos como foi o caso da música “Sandstorm”, que fala sobre a
Primavera Árabe de 2011, que levou milhões de pessoas às ruas do Cairo para
destituir o então ditador Mubarak. Abordamos muitos aspectos filosóficos
também, como o dilema exposto por Thomas Hobbes: ‘O homem é o lobo do homem’,
que abordamos através da luta do guerreiro Medjay para controlar sua natureza
agressiva e instinto assassino.
O Power Metal é o carro chefe da parte sonora, mas é possível notar em
“Cleopatra VII” algo a mais, o que deixa tudo mais interessante e sem soar
cansativo ou repetitivo. Com estruturas bem trabalhadas e encaixadas com essa
influência do oriente médio. Como foi criar tudo isso sem cair em uma formula
genérica?
Nossas linhas de composição são
pensadas em prol da musicalidade. Não estamos preocupados em ser os ‘reis da
velocidade e técnica’, mas nosso objetivo é fazer músicas que a gente curta e
que vai empolgar o público pra cantar junto com a gente. Outro aspecto
interessante é que cada integrante traz sua própria bagagem de influências. Por
exemplo, Phil tem como principais referências Andre Matos, Bruce Dickinson,
Dio, enquanto Samuka traz muitos elementos que fizeram parte de sua formação e
gosto pessoal também como Accept, Sabaton. Misturando isso tudo na hora de
compor, contribui para criar uma identidade bem única em termos de sonoridade.
Para o novo álbum vocês escolheram como tema central a grandiosa rainha
Cleópatra. Trazendo uma abordagem além de seu poder “sensual”, mostrando que a
mesma foi muito mais do que isso e sim uma mulher brilhante e grande rainha.
Infelizmente muitos não sabem e acabam ligando a mesma a questões vulgares o
que é um grande erro. Nos fale dessa personagem icônica e do porquê desta
escolha.
Cleópatra VII foi a rainha mais
poderosa do Egito. Com sua astúcia conquistou influência e poder. Possuía vasto
conhecimento, era uma mulher empoderada, dona do seu destino. Cleópatra VII vai
além de uma personagem histórica, ela é um espírito de liberdade feminina. Ela
representa todas as mulheres no mundo que são fortes, que lutam por igualdade,
que não aceitam se curvar ao machismo, ao enquadramento de como devem se
comportar. Cleópatra VII é símbolo de força, assim como toda mulher é: forte,
determinada e empoderada.
Por mais assustador que possa ser, estamos em situações de doenças,
pragas e uma loucura quase generalizada por brigas referente a poder. Olhando
por essa ótica, é possível ligar o Egito antigo com o mundo atual?
Na verdade, é uma outra leitura
do mundo. Os Egípcios faziam interpretações dos acontecimentos baseados no que
tinham disponível em termos de conhecimentos. Até hoje nos espanta tudo que
desenvolveram em termos de engenharia, invenções, arte. É razoável que a
civilização egípcia tem muito a nos ensinar, era uma sociedade a frente do seu
tempo.
Recentemente vocês estiveram de volta a São Paulo ao lado do Dr. Sin em
um show diferente e imersivo, trazendo toda essa experiência histórica para os
palcos. Essa será a ideia daqui em diante para os shows?
Nossa ideia sempre foi levar para
o palco mais que uma experiência sonora de qualidade, mas algo realmente
imersivo, com belas imagens projetadas no telão e intervenções teatrais de
nossas grandes parceiras da Tribo Dannan, que estão conosco desde o princípio.
Temos também uma parceria muito legal com a Magot, responsável pelo desenvolvimento
do nosso figurino. Eles fazem um trabalho fantástico customizando algumas peças
que já temos para torna-las únicas, e também fazem algumas literalmente do
zero.
Antes de encerrar, quero agradece-los pelo tempo e disponibilidade e
gostaria que deixassem para o nosso público dicas de leituras mitológicas que
possam fazer a diferença em termos de crescimento pessoal.
Nós que agradecemos pela força em
divulgar o metal nacional e as ótimas bandas que tem feito trabalhos fantásticos.
Dica de Leitura: Egito Secreto:
Paul Brunton
Religião e Magia no Egito Antigo:
Rosalie David
Mais informações:
https://www.facebook.com/medjayofficial
https://www.instagram.com/medjay_official/
Comentários
Postar um comentário