Entrevista – Godhound: Ainda temos uma cena ativa, mas significativamente menor do que tivemos outrora
Por: Renato Sanson
Músico entrevistado: Lázaro Fabrício (bateria)
Até o lançamento de “Refueled” (22) foram dois EP’s: “Godhound” (12) e
“God Above… Hound On The Road” (13). Como foi este caminho até o Debut?
Lázaro Fabrício - A banda surge, basicamente, nos idos de 2010, por entre os muros da UFRN, uma vez que três dos cinco membros da primeira formação cursavam Engenharia Mecânica lá. Nesse sentido, Victor Freire (guitarra e backing vocals) e Vitor Asmann (guitarra) tiveram a ideia inicial do projeto, convidando em seguida, para completar a formação, Kael Freire para o baixo, Alessandro Natalini para a bateria e Hilton Trindade para os vocais. Com essa formação, a banda lançou o primeiro EP, homônimo.
Após o primeiro EP, Hilton Trindade deixa a banda e Kael Freire assume também os vocais. Assim, então, é lançado o segundo trabalho, o EP “God Above… Hound On The Road”, de 2013, dando à banda maior visibilidade e repercussão, culminando também com um bom número de shows e participações em importantes festivais do Estado do RN, como o Festival DOSOL e o Rock Grande do Norte, além de abrirmos também o show do saudoso e eterno maestro do Metal, Andre Matos, em Mossoró.
Após o segundo EP, o Godhound diminui um pouco o ritmo do trabalho, muito em virtude da necessidade de os membros conciliarem seus trabalhos e estudos com a banda. Alguns anos depois, já em 2018, e agora comigo na bateria, retornamos os trabalhos com força máxima. Pouco tempo depois, lançamos o single que marca essa retomada, “Gravestone”. Depois disso, de 2019 para 2020, iniciamos a produção do “Refueled”, a partir de uma série de composições principalmente de Victor Freire e Kael Freire. Em 2021, ainda em contexto pandêmico, começamos as gravações no Lumber Sound Studio, estúdio do nosso baixista e vocalista Kael Freire, que também assinou as mixagens do disco, bem como a produção musical. Mais ou menos em meados de 2022, “Refueled” é oficialmente lançado e mostra ao mundo sua face.
“Refueled” conta com a participação do grande Jimmy London na faixa “Deathmask Trucker”. Conte-nos sobre este momento e o convite para a participação.
Em determinado momento no processo de pré-produção do “Refueled”, passamos a discutir a possibilidade de contar com a participação especial em alguma das nossas músicas. Dentre os momentos sugeridos, surgiu o de Jimmy London, sugerido por nosso guitarrista. Foi então que estabeleci contato com o Jimmy, que se mostrou bastante receptivo. Passamos a um processo de interlocução e enviamos alguns dos sons do disco para o Jimmy. Em consenso, optamos por “Deathmask Trucker”, uma das que ele mais curtiu e se interessou em gravar conosco. O processo todo foi feito a distância, com Jimmy gravando suas partes diretamente do Rio de Janeiro. O resultado final, sobretudo o dueto com nosso vocalista e baixista, ficou acima do esperado, e a participação do Jimmy certamente elevou muito nosso trabalho e contribuiu igualmente para uma maior visibilidade. Grande honra e alegria contar com a participação dele no álbum.
Musicalmente temos uma sonoridade Stoner, mas com pitadas apimentas de
Rock e Heavy Metal. O intuito sempre foi este desde o início lá em 2010?
No início, o intuito era fazer um
som mais direto, um rock ‘n’ roll mais “cru”, digamos assim, com influências
principalmente do rock clássico e do blues. No segundo trabalho, já houve uma
maior diversificação, principalmente no trabalho de guitarras. As composições
de “Refueled”, a partir das experiências acumuladas e do trabalho realizado,
soam mais maduras em relação aos trabalhos anteriores, até mesmo porque
procuramos explorar outros elementos e estruturas musicais. Há tanto sons com
uma pegada mais clássica, caso de “Gravestone” e “Rockin Spirit”, como
composições que seguiram uma linha mais pesada, como “Diesel Burner” e
“Takeover”. “Jack the Lumber”, “Warriors” e “Deathmask Trucker”, por suas feitas,
trazem uma sonoridade mais alinhada aos primeiros trabalhos da Godhound, ou
seja, mantendo elementos de uma identidade construída lá no início, que se
apresenta até hoje como parte da “essência” da banda.
Como é a cena Metal em Mossoró/RN? Pergunto, pois, sou do da região
metropolitana de Porto Alegre/RS e digo com toda a certeza: que tínhamos uma
cena muito forte, mas com o tempo foi perdendo a sua força. Excelentes bandas,
mas o público sem interesse ao meu ver.
Aqui, temos um contexto
semelhante. Ainda temos uma cena ativa, mas significativamente menor do que
tivemos outrora. Mossoró continua sendo um celeiro de ótimas bandas, porém,
tivemos uma queda expressiva em relação ao número de pagantes nos shows. Temos
um cenário que não é simples de analisar, pois envolve diversos fatores e
mudanças, que se intensificaram principalmente com o amplo acesso à internet
banda larga, o advento das plataformas de streaming, avanço das tecnologias de
gravação (hoje é possível gravar um álbum de excelente qualidade técnica sem
sair de casa, desde que se tenha a estrutura necessária), maior profusão de
bandas e artistas e até mesmo ao surgimento das novas gerações, que tem uma
relação com a música e com os artistas e bandas diferente do que tem e tinham
as gerações anteriores.
O que temos, de fato, é um
contexto bastante complexo, e que exige das bandas e artistas não apenas
fazerem um som de qualidade, mas também demanda amplo domínio de ferramentas e
tecnologias, conhecimento de estratégias de marketing musical e de publicidade,
domínio das redes e de produção de conteúdo e engajamento, conhecimento dos
elementos estético-visuais, networking efetivo, dentre outras coisas. Em
resumo, temos um contexto bastante desafiador, que faz necessário com as bandas
busquem cada vez mais estarem “antenadas” com “seu tempo” e o que ele traz de
novo. Outro ponto necessário é um trabalho conjunto e articulado, parcerias
entre bandas e artistas, o que ocorre hoje em diversos estilos, sobretudo os
estilos mais prevalentes na indústria fonográfica brasileira, mas que apenas
engatinha no rock/metal, quando muito.
Em termos de recepção, “Refueled” tem atingido o esperado?
A recepção e repercussão têm sido
bastante positivas, e até superou o que tínhamos enquanto expectativa inicial.
Ficamos, inclusive, muito felizes com as resenhas e análises que têm saído na
crítica especializada do nosso álbum “Refueled”! As críticas positivas vão
desde a capa, criada pelo grande Wildner Lima, até às músicas e à produção do
álbum. O mesmo ocorre entre a galera que curte e acompanha nosso trabalho, o
que traz para nós o desafio de não apenas manter o padrão, mas de superá-lo e
entregar um trabalho ainda melhor no próximo álbum. E tudo que temos lido e
ouvido têm servido de combustível para isso.
Comente sobre a parte lírica do álbum, que apesar de apresentar temas
distintos, soam bem pertinentes e atuais.
As composições do “Refueled”
ficaram a cargo principalmente de Kael e Victor, e exploram desde fatos
cotidianos até universos fictícios, passando por reflexões sobre questões
atuais e músicas com um tom mais motivacional. Ou seja, apresentam de fato
temas e abordagens distintas, mas tentando sempre essa conexão com os tempos
atuais.
Ainda sobre as letras. Quais foram as inspirações?
As letras não seguem uma única temática ou têm uma temática central, na medida em que apresentam temas e abordagens diferentes, mas muitas vezes convergentes. Então, algumas músicas apresentam um alinhamento entre as temáticas abordadas.
As inspirações incluem
desde obras literárias, cinematográficas e autores, como Stephen King, por
exemplo, até o que se apresenta no noticiário político atual. Músicas como
“Takeover”, “Diesel Burner”e “Jack the Lumber” trazem, por exemplo, mensagens
mais motivacionais, digamos assim; “Gravestone” alerta para os perigos do
vício, em especial o álcool; “Rockin’ Spirit”, com sua pegada “AC/DCiana” traz
uma atmosfera um pouco mais saudosista, nostálgica, fazendo referência ao
sentimento de estar no palco, tocando sua guitarra, compondo ou com os amigos.
“Open Letter” traz uma reflexão crítica sobre o contexto atual no que se
refere, dentre outros, à polarização política, e os diversos tipos de
fanatismos; “Warriors” bebe diretamente da fonte do filme que leva o mesmo
nome; “Deathmask Trucker”, por sua vez, advém da inspiração da HQ Road Rage.
Então, esse é mais ou menos o panorama se tratando das inspirações e temáticas
que permeiam o “Refueled”.
Sempre bom poder conversar com excelentes artistas que seguem levando a
bandeira do Metal nacional adiante! Deixo o espaço final para vocês, mas antes
gostaria que comentassem os planos futuros do Godhound.
Nós que agradecemos a gentileza
do convite e o espaço para apresentarmos e discutirmos um pouco do nosso novo
trabalho. Muito obrigado!
Sobre os planos da banda,
planejamos uma turnê no Nordeste agora no segundo semestre de 2023, além de
seguir forte na divulgação do “Refueled” e na consolidação do nosso público.
Paralelo a isso, começaremos a trabalhar também em novas canções, a partir de
ideias que já existem e outras que certamente surgirão.
Para a galera que quer conhecer
um pouco mais sobre nós, conhecer nosso trabalho e nos acompanhar, estamos em
todas as redes sociais e no YouTube. Temos bastante conteúdos disponibilizados
nesses espaços, e são através das redes também que nos comunicamos e trazemos
todas as novidades! Contamos com todos e todas vocês!
Grande abraço e Stay Hound!
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