Por: Renato Sanson
O Midgard estava inativo a um bom tempo. Mesmo com a boa repercussão do debut “From Ashes...” (05). Qual o motivo para uma pausa tão longa?
PAULA: O “From Ashes...” foi lançado por uma formação fragmentada,
já que os membros moravam em cidades diferentes e bastante distantes, o que
dificultava shows e, até mesmo, ensaios. Em 2004, eu já estava afastada da
banda, mas sempre mantive contato com o Kleber Perini (baixista-fundador) e
pude ter certeza de que ele não seguiria com os trabalhos. A partir daí eu sempre
tentei reunir a Midgard de todas as formas possíveis. Até mescla de formações
foi tentado sem sucesso porque eram ideias muito diferentes, apesar de todos se
entenderem bem (rs). Enfim, nunca era um bom momento devido a compromissos
pessoais como trabalho, família etc. Aí, enfim, deu certo e eu acho que era
para ser porque a formação atual é perfeita. Estamos juntos há um tempo já e
tem sido muito harmônico.
“Verdugos” nasceu dessa volta e com uma nova formação e até mesmo um direcionamento musical mais focado no Heavy tradicional. Conte-nos um pouco sobre esse retorno.
F.L.Y.: Nossas influências musicais a princípio era o doom metal oitentista do Candlemass e o viking metal do Falkenbach. No entanto, as primeiras demos saíram com uma sonoridade um pouco mais peculiar, com menos influência dessas bandas como nós imaginávamos. O “From Ashes...” foi gravado por outra formação. Aí com nosso retorno, tendo dois dos compositores da formação original - Omar Rezende e eu - nós já́ chegamos acrescentando muito mais coisa no nosso estilo, mas sempre com um grande aspecto doom metal nas músicas, em se tratando de velocidade e melancolia e tristeza. Outras vezes um êxtase existencial ou uma loucura qualquer... enfim, os climas variam muito, mas é doom que musicalmente nos influencia.
A ideia das letras e da temática em si de “Verdugos” anda sob a ótica do quanto estamos destruindo o nosso mundo. Quais foram as influências?
F.L.Y.: O que influenciou a temática da capa do disco são as
evidências milenares da idolatria e submissão das massas pelos sapiens mais
astutos, porém nem sempre bem-intencionados, que estão
no poder do mundo.
Da pausa até a volta em 2021 muita coisa mudou no cenário fonográfico.
Como receberam essas mudanças?
MiÑO: Realmente muita coisa mudou de lá́ pra cá́, principalmente na
parte tecnológica, por um lado se perdeu um pouco daquela "aventura"
de comprar um vinil ou um CD lançamento das bandas que gostamos: tem uma magia
e muita cumplicidade nessa troca, tanto que a Midgard, mesmo em tempos de
streaming optou também por produzir o álbum físico, isso também pertence ao
legado da história da banda. Por outro lado, ganhamos muito no acesso fácil e
rápido a nossas músicas pelo público e também um ganho na qualidade sonora que
essa transformação proporciona. Com essa acessibilidade, bandas em geral
puderam sair da garagem e das demos em k7 para os estúdios e gravações
de maior qualidade.
PAULA: O cenário atual não é favorável para os músicos. Sempre houve uma quantia imensa de bandas, mas só havia destaque para as que realmente tinham competência ou diferencial. Atualmente, com a facilidade das redes sociais e inúmeras pessoas se aproveitando disso, qualquer banda passa a ter relevância se postar alguma bobagem que se torne viral e não pelo som em si. A possibilidade de viver profissionalmente de música, que já era baixa, foi a praticamente impossível porque o advento do streaming tem as bandas praticamente produzindo conteúdo gratuito e dependendo da venda de merchandising e cachê de shows, o que é muito difícil com a maioria das casas preferindo pagar bandas cover do que autorais justamente devido à garantia de público que essas trazem, infelizmente.
Mesmo em um mundo tomado pela tecnologia e streamings, vocês optaram por lançar o álbum em formato físico. Como enxergam o mercado musical daqui há 10 anos?
PAULA: Eu não acho que a mídia física irá desaparecer em algum
momento. Inclusive, agora, tem um retorno forte do interesse por vinil. Porém,
eu imagino que se tornará itens de colecionador, com alta valorização devido a
quantias limitadas. Quanto ao mercado em si, se não passar a haver uma
remuneração adequada do músico, uma conscientização por parte de quem lucra em
cima da criatividade alheia – ainda mais com a introdução da inteligência
artificial para criação instantânea de música e todos os outros fatores que
geram grande desanimo - é bem possível que vejamos cada vez menos músicos de
carne e osso produzindo coisas novas, exceto pelos já consagrados e os
hobbiistas.
Em relação a formação atual da banda, temos apenas dois remanescentes da formação original. Qual foi a maior dificuldade em manter a mesma formação e de procurar novos músicos para a proposta sonora?
F.L.Y.: Na verdade, os remanescentes originais da banda são
justamente dois dos principais compositores da formação original o que, na
prática, não muda muita coisa porque sempre fomos nós que fizemos as músicas,
embora nunca tenhamos vetado alguma ideia dos demais membros, que sempre nos
deram total liberdade para passar o que eles deveriam executar, preferindo criar
em cima do esqueleto montado. Como já era assim desde 99, só precisávamos de
alguém que trabalhar assim e, como o som apresenta características diversas e
ecléticas, os primeiros convidados já́ toparam. A Paulinha Jabur, porém, só
entrou no final das gravações deste novo álbum, após um breve período no qual
gravou o single “Crying At The Party”, como tecladista e backing vocal. Foi uma
decisão minha colocá-la para fazer algumas vozes de novo, mas, infelizmente,
já́ havíamos feito quase tudo e, por isso, a participação dela nesse CD não foi
muito grande, mas será́ bem maior no próximo. Salientando que a Paulinha foi a
produtora fonográfica e assessora da banda do início até 2003 e, depois,
novamente até assinarmos com a Som do Darma e, por isso, conta também como
membro original (rs).
Essa é uma pergunta que venho fazendo a todas as bandas e geram respostas bem peculiares. Se pudesse definir o Midgard em uma frase qual seria?
PAULA: Um som feito por quem realmente curte metal para quem curte
metal, independente de vertentes.
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